Diferentes crenças, uma só humanidade. A diversidade religiosa ensinando o respeito. O projeto tem um simples objetivo: promover o diálogo, fortalecer a tolerância, liberdade e coexistência pacífica entre diferentes religiões no Brasil. Ainda necessário em tempos atuais, ocorre em um contexto onde a intolerância religiosa continua a ser um desafio, especialmente notável no crescimento de casos contra comunidades religiosas minoritárias.
O palco na Praça do Samba, no Parque Madureira Mestre Monarco / ZN, registrou momentos icônicos neste sábado (25) com shows do Pastor Kleber Lucas, Rita Benneditto, Vou Pro Sereno e Padre Marco Lázaro, integrando festival inter-religioso, fechando a Semana Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, que celebra a diversidade e a liberdade religiosa. Realização do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas e Comissão de Combate à Intolerância Religiosa.
“A cultura e a educação são as bases para a construção da tolerância e valorização da diversidade. Esse é o mote que o festival cultural Inter-religioso “Cantando a Gente se Entende”, traz na sua essência atos de resistências cotidianas. Sem bandeiras políticas ou partidária, nasceu como proposta de transversalização à cultura, promovendo o respeito”, declarou o Pós – Doutor Babalawô Ivanir dos Santos – Professor e orientador no Programa de Pós-graduação em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/UFRJ).
A atividade começou logo cedo, a partir das 10h da manhã com roda de conversa, seguida de apresentação do cantor Wellington Costa / MNE – Movimento Negro Evangélico. Os wiccanos apresentaram Coven Lua de Louros, em uma performance teatral. Cantaria cigana, trouxe o Xirê dos Ciganos Louvando os Orixás. Os mestres de cerimônia Cristina George e Pai Nando de Oxaguiã, conduziram todas as apresentações.
No início da tarde, chegou na praça a Procissão de Zé Pilintra, cortejo formado por vários grupos que saíram da quadra da Portela até o parque de Madureira. Atividade contou com apresentação do Coral Guarani da Aldeia Mata Verde Bonita – Etnia Mbya Guarani da capital do Rio de Janeiro, da região do Município de Maricá. Assim, como da Arca da Montanha Azul, instituição multirreligiosa, terapêutica, pedagógica, iniciática e científica fundada em 1989 por Philippe Bandeira de Mello – orientador espiritual.
“A fé é uma questão de encontro, não de teoria. Isso aqui é prova viva do que estou falando”, defendeu o católico José Gomes de Sá, de 72 anos, que foi ao festival ao lado da mulher Ana, de 65 anos e das filhas Beatriz (35 anos) e Ana (39 anos), que são evangélicas.
No palco principal, o sambão do Vou Pro Sereno, que colocou todo mundo para dançar, começando a apresentação com a música “Nada Pra Fazer”, além de outros clássicos do samba. O mesmo palco recebeu ainda o Padre Marco Lázaro, mas não para uma missa e sim para soltar a voz. Natural de Feira de Santana, o sacerdote, que também é cantor, criou o “Axé Gospel”, e foi nesse ritmo que embalou o público.
Kleber Lucas, detentor de um Grammy Latino, além de outras indicações, vários CDs gravados, discos de ouro e platina e reverenciado por incorporar sonoridades da soul music. Em sua apresentação trouxe louvores e clássicos como “Deus Cuida De Mim” e “Aos Pés da Cruz”, deixando todos em êxtase. A reação não foi muito diferente quando entrou no palco Rita Benneditto, com seu Tecnomacumba, em um interessante manifesto de brasilidade, Rita Benneditto traz uma intervenção cultural, que mostra a fusão de beats eletrônicos e pontos de terreiros de umbanda e candomblé, e sua influência na música popular brasileira, encerrando projeto por volta das 20h.
O encontro mostra que é possível a concomitância pacífica entre diferentes religiões e também o quanto é enriquecedora. Com respeito, educação, diálogo e celebração das semelhanças, para uma construção de uma sociedade plural. A atividade contou ainda com em torno de 20 barracas inter-religiosas, apresentando suas características.
– O Festival Cantando a Gente Se Entende, encerra as atividades da Semana Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Uma realização do CEAP, CCIR, CIRCUITO UBUNTU. A atividade é alusiva ao 21 de janeiro – Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Instituída em 2007, através da Lei nº 11.635, de 27 de dezembro, a data foi escolhida em homenagem a Mãe Gilda, que foi vítima de diversas agressões, verbais e físicas, provocadas pelo preconceito à sua religião. A Semana Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, realizou janeiro no CCJF, no Centro, diversas mesas com debates, trazendo temas para a promoção da Liberdade Religiosa, Democracia e Direitos Humanos. Essa edição ganhou um caráter mundial com a Conferência Internacional com a Dra. Epsy Campbell Barr, Emigdio Cuesta Pino e Michel Joseph, participação ainda de Mariana Gino, Helena Theodoro, entre outros. Abordados ainda temas como Estado laico, Liberdades e Pluralidades, Segurança Pública e Liberdade Religiosa, Política, Religiões e Democracia.
A intolerância religiosa e o racismo são reais, o festival, realizado no Dia internacional da África, soa como uma possibilidade de construção e ressignificação, pelo respeito à diversidade, pela paz e tolerância. Recebeu presença do Padre Gegê, muçulmanos, representantes do movimento negro, entre outros.
Contou com ´patrocínio: Tv Globo, Bayer, Ambev, Atacadão, Ministério de Cultura – Governo Federal, Secretaria Estadual de Cultura – RJ e Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro. Apoio do CCJF – Centro Cultural Justiça Federal / UNESCO / Defensoria Pública da União / Coordenadoria de Experiências Religiosas Africanas, Afro-brasileiras, Racismo e Intolerância Religiosa (ERARIR/LHER/UFRJ) / Coletivo Maitê Ferreira. Uma realização do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP) / Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) / CIRCUITO UBUNTU.
Fotos de Henrique Esteves